sexta-feira, 26 de julho de 2013

SISTEMA PRODUTIVO PARA O SEMIÁRIDO - ARTIGO DE PAULO SOUTO

PUBLICADO NO JORNAL A TARDE
 
Jornal A Tarde

 


 No artigo anterior, procurei demonstrar que esta última seca está mostrando dramaticamente a necessidade de um planejamento que contemple soluções para o abastecimento humano em muitas regiões nordestinas, pois populações urbanas também foram atingidas por racionamentos que afetaram fortemente a qualidade de vida de milhões de pessoas, evidenciando o risco a que estão submetidas.
Para estados nordestinos, principalmente a Bahia, pela extensão do semiárido e pelo grande contingente populacional na área rural, não se pode pensar apenas no abastecimento humano. Mas também num sistema produtivo compatível com o ecossistema regional, que propicie uma renda capaz de dar dignidade aos que pretendem permanecer nas suas regiões, sem precisarem ser expulsos de lá pelas dificuldades de sobrevivência.
E o fundamento para políticas com esse objetivo é o pressuposto que isso é perfeitamente possível, afastando teorias excêntricas da inviabilidade dessas regiões. Em muitos países, pequenas populações rurais são objeto de preocupação governamental, até mesmo para preservação de uma importante identidade cultural, que inclui os seus produtos.
Pensando na produção agropecuária é evidente que esse sistema não poderá ser intensivo em água. Daí porque a irrigação, que é uma ótima alternativa, não pode ser uma solução muito abrangente, funcionando as áreas irrigadas como importantes núcleos de irradiação da atividade econômica.
É necessário, sim, que haja a disponibilidade de água com altos níveis de segurança em cada propriedade rural, suficiente para atender às necessidades das famílias, mas também para dar confiabilidade ao sistema produtivo considerável viável para cada região. Isso é ponto de partida para qualquer iniciativa que se disponha a tratar com seriedade a convivência dos nordestinos com as adversidades do clima.  
Os programas de agricultura familiar até que têm sido generosos com o crédito e com as compras governamentais. Mas falham porque não consideram adequadamente a infraestrutura da propriedade. Principalmente ,o suprimento confiável de água durante todo o ano, inclusive a destinada ao sistema produtivo. Pode haver dinheiro para comprar a produção, mas não há produção a ser comprada.
Esse sistema terá que necessariamente ser pouco intensivo em água e, por isso mesmo, a pecuária, principalmente a caprinocultura, sempre desponta como uma solução adequada. Mas não pode se limitar aos programas que simplesmente contemplam a doação dos animais, produzidos precariamente ou que sucumbem a cada estiagem, justamente pela falta de infraestrutura produtiva: água e alimentação para o rebanho.
É preciso conhecer as necessidades de água ao nível de cada propriedade para a definição do seu suprimento, usando as diversas soluções existentes, ao lado de assistência técnica que oriente sobre os modelos adequados de produção de alimentos para o rebanho, que hoje já são dominados por tecnologias muito eficientes. Além, é claro, das questões genéticas e dos cuidados com a sanidade.
Da mesma forma que se conseguiu cadastrar milhões de famílias para identificar sua deficiência de renda no Bolsa Família, precisamos conhecer as necessidades das famílias da zona rural do semi-árido para que possam  viver e produzir para ter uma vida digna.
Já existem inúmeras soluções para o sistema produtivo, inclusive as que contemplam atividades diversificadas que permitem produção para todo o ano e já associadas a uma fase agroindustrial pela associação dos produtores. O essencial é que haja programas de longa duração e recursos assegurados para implantar essas soluções.
Na agricultura ao lado de culturas já conhecidas pela sua adaptação ao clima do semiárido, estão avançando rapidamente as pesquisas para a produção de variedades resistentes. O que é certo é que não existem razões intransponíveis para tornar o semiárido uma região capaz de proporcionar aos seus habitantes um padrão de vida que lhe permita realizar o seu ideal de permanecer integrado às suas raízes.  
 
Artigo de Paulo Souto

Ex senador da república  e governador da Bahia .
Foto : Facebook Paulo Souto

 

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