Aprendizado fica mais fácil com representações teatrais
Odeio química, química, química!" Talvez, se os professores de Renato Russo
tivessem usado a criatividade do teatro para ensinar química no palco, a letra
da música fosse outra. Desde 2004, uma iniciativa do Departamento de Química da
Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) tem despertado paixões por essa área
do conhecimento. O Projeto Ouroboros de Divulgação Científica transforma temas
científicos, explicados por fenômenos químicos, em encenações teatrais
itinerantes pelo Brasil.
“Química é difícil mesmo, mas é possível aproximá-la dos alunos, quebrando
essa má impressão e essa visão de disciplina vilã", garante a professora Karina
Omuro Lupetti, que dirige o Núcleo Ouroboros da UFSCar desde 2005. Pátios de
escolas, salões de igrejas, praças públicas e até mesmo salas de aula viram
palco para os alunos-atores. Mais de 150 estudantes de graduação em química já
foram formados pelo projeto de divulgação científica, que tem mais de 15
montagens teatrais com textos adaptados a públicos diferentes, da educação
infantil à graduação.
O objetivo do projeto é aproximar a população em geral dos conhecimentos e do
meio cultural vivido dentro das universidades. O próprio nome do projeto
desperta curiosidade. Ouroboros é a representação de uma serpente ou dragão que
morde a própria cauda. O nome vem do grego antigo e significa “aquele que devora
a própria cauda". É um símbolo relacionado com a alquimia e contém as ideias de
autofecundação, de eterno retorno. Uma das peças encenadas pelos estudantes faz
referência aos alquimistas que buscam o elixir da vida eterna, o Santo Graal,
que salvaria o lendário Rei Arthur.
Encontro — De 7 a 10 de agosto, será realizada na cidade
serrana de Pacoti, a 95 quilômetros de Fortaleza, a sétima edição do Encontro Ciência em Cena de Teatro Científico. A
organização do evento é do grupo Tubo de Ensaio, da Faculdade de Educação de
Itapipoca da Universidade Estadual do Ceará (Facedi/Uece).
Além dos estudantes da UFSCar, participarão grupos de teatro de universidades
do Ceará (UFCE), de São Paulo (USP) e de Portugal. As encenações serão
gratuitas. A peça apresentada pelo Núcleo Ouroboros tratará do tema pecuária
sustentável.
“Será um teatro de sombras, e os personagens viajarão pelos biomas, onde
enfrentarão problemas como as queimadas e desmatamentos", explica Karina. Mas o
que tem a química a ver com essas questões ambientais? “Costumo dizer que a
ciência contextualizada muda a visão de mundo, cria uma mentalidade crítica. É
uma alfabetização científica."
A química estará, por exemplo, nas falas dos personagens aos explicarem as
reações dos gases do efeito estufa, a química que produz a eructação bovina (o
popular arroto do boi) e o impacto disso na emissão de gás metano na atmosfera
e, por consequência, no aquecimento global. Além das apresentações teatrais, os
alunos-atores participarão de oficinas com temas variados envolvendo a
química.
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